Os vereadores Eduardo Suplicy e Toninho Véspoli (PSOL) estiveram desde o começo na linha de frente para ajudar a família do jovem Leandro de Souza, assassinado na Favela do Moinho durante ação da Polícia Militar na última terça-feira (27/06).

Véspoli deu apoio jurídico e Suplicy esteve no local do crime para ajudar no encaminhamento político e criminal, com a ajuda de seu gabinete.

Leia a seguir a carta que Suplicy enviou ao governador Geraldo Alckmin,  e ao prefeito de São Paulo, João Doria, denunciando o crime e relatando o que ocorreu na Favela do Moinho:

 

A Sua Excelência o Senhor Governador

Geraldo Alckmin

Palácio dos Bandeirantes

Ao Senhor Prefeito

João Doria Junior

Prefeitura de São Paulo

À Senhora Superintendente

Márcia Mendes

Serviço Funerário da Cidade de São Paulo

Senhor Governador Geraldo Alckmin,

Senhor Prefeito João Doria,

Senhora Superintendente Márcia Mendes,

Ao cumprimentá-los cordialmente, relato que estou acompanhando os desdobramentos acerca da morte do jovem Leandro de Souza Santos, 18 anos, durante operação policial na comunidade da Favela do Moinho, ocorrida ontem, 27 do corrente.

Cumpre-me ressaltar que senhora Maria Odete de Souza, mãe de Leandro, relatou-me que seu filho era usuário de drogas e álcool, mas jamais esteve envolvido com tráfico ou organizações criminosas, inclusive não constando nenhuma passagem sua pela polícia.

A senhora Maria Odete e sua filha mais velha, Letícia de Souza, testemunharam o momento em que Leandro, ao ter fugido dos policiais, por medo, entrou na casa de uma vizinha, senhora Lucimar Oliveira Santana, que também testemunhou o episódio acima narrado.

A senhora Lucimar relatou que Leandro não estava armado, e Letícia testemunhou o momento em que dois policiais entraram com uma arma embrulhada em saco plástico e ouviu, pouco tempo depois, quando tiros foram disparados contra as paredes do barraco, o que parecia indicar uma tentativa de simular que Leandro tivesse reagido, estando armando, e trocado tiros com policiais. Todas as testemunhas reiteraram que o rapaz não estava armado.

Leandro ficou por mais de uma hora retido pela polícia na residência da senhora Lucimar. A mãe de Leandro, desesperada, permaneceu na porta, e questionou os policiais sobre o que estavam fazendo com seu filho. Questionou, ainda, se a polícia estaria forjando uma troca de tiros, uma vez que o som, dentro do local, foi significativamente aumentado, seguido pelos mencionados disparos de arma de fogo.

A senhora Maria Odete relatou que, ao sair do barraco, seu filho estava em uma maca, embrulhado em uma manta térmica, tendo sido levado pelos fundos da favela a lugar incerto e não sabido, acompanhado dos policiais que o abordaram. Não pôde, naquele momento, verificar o estado de saúde de seu filho e, desesperada, pediu auxílio a outros moradores.

Quando cheguei ao necrotério, estando ao lado do corpo de Leandro, juntamente com sua mãe, observei ferimentos provocados por arma de fogo, Imediatamente entrei em contato por telefone com o Secretário adjunto da Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo, senhor Sérgio Turra Sobrane, ao qual a senhora Maria Odete e sua filha Letícia relataram o quanto Leandro era uma pessoa querida pela comunidade da Favela do Moinho.

Há, ainda, inúmeros relatos de pessoas da comunidade que informaram que a polícia chegou ao local sem mandato e de forma truculenta, com helicópteros e uso de bombas de gás lacrimogêneo. No local havia crianças e idosos, além de munícipes circulando, que nada tinham a ver com a operação. Todos ficaram aterrorizados, inclusive Leandro.

Embora, por vezes, como já mencionei, Leandro fizesse uso de álcool e drogas, era um rapaz de bom caráter. Mesmo sendo muito jovem, era casado e tinha uma filha de 02 anos.

Sendo uma família desprovida de recursos, reivindico ao Governo estadual e municipal que arque com as despesas de seu velório e enterro, garantindo a realização do velório na comunidade do Moinho, como pede sua família. Caso isso não ocorra, arcarei com tais despesas, deixando registrado que considero esta uma responsabilidade do Governo estadual e municipal.

Por fim, informo que acabo de apresentar essa reivindicação à senhora Márcia Mendes, Superintendente do Serviço Funerário da Cidade de São Paulo, que se propôs a verificar a possibilidade com a urgência que o caso requer. Neste momento a família está na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, em Santa Cecília, visando à liberação do corpo, fato que exige uma pronta resposta por parte do Poder Público.

Diante da gravidade dos fatos ora narrados, submeto o assunto a sua análise, visando ao atendimento do pedido ora exposto, como também à premente apuração do ocorrido, pois, pelo que pude perceber, o jovem foi vítima de execução por parte da polícia.

Certo de sua atenção ao caso, agradeço a atenção dispensada e na oportunidade renovo votos de elevada e distinta consideração.

Vereador Eduardo Matarazzo Suplicy