Irenice era uma moça pobre, negra e aparentemente condenada a uma vida de extrema dificuldade, como ocorre com tantas pessoas neste país. O atletismo deu-lhe uma saída para amenizar os problemas, mas o orgulho de ser negra e a postura contestadora contra o racismo, a discriminação e a injustiça social tiveram consequências devastadoras.
Seria só mais uma vítima de uma engrenagem que mantém privilégios de uma elite insensível, em um país extremamente desigual e nada disposto a mudar esse panorama?
Essa é a pergunta que o ótimo documentário “Procura-se Irenice” tenta responder. Em pouco menos de meia hora, os diretores Thiago Mendonça e Marco Escrivão revelam a existência de uma personagem única e corajosa dentro do esporte nacional, que ousou peitar a ditadura militar e denunciar o racismo e a discriminação no atletismo militar.
Por conta de sua postura contestadora, a mineira Irenice Maria Rodrigues, negra, acabou banida de uma Olimpíada e teve seus registros esportivos “apagados” dos documentos esportivos oficiais nacionais.
Ela despontou no esporte em 1966, inicialmente no salto em distância, mas mudou de modalidade graças à visão de um técnico inteligente e competente. Virou uma estrela dos 800 metros, uma prova nobre do atletismo, batendo seguidos recordes sul-americanos nos dois anos seguintes.
Enquanto despontava, mostrava-se uma garota inteligente e pouco disposta a tolerar o racismo e as constantes discriminações que ela e outros atletas negros sofriam nos clubes do Rio de Janeiro. Reclamava, denunciava e expunha toda a hipocrisia de uma modalidade dominada por coronéis, majores e generais – como quase todo o esporte amador e olímpico do país.
(Continua)
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