A Pesquisa Social Participativa sobre a população em situação de rua identificou três principais eixos de mostram como se comportam os indivíduos inseridos no contexto.
A primeira conclusão do estudo é de que a vida nas ruas funciona de acordo com diferentes leis e concepções de tempo e espaço.
Ficando clara essa diferença é que é possível construir políticas públicas dignas. Com esse conhecimento é possível construir uma política pública que leve em consideração o sujeito, ou os grupos sociais, em suas peculiaridades e lógicas.
A segunda conclusão tem a ver com a relação dessas pessoas com o tempo. A vida na rua leva a um inevitável imediatismo. Não é possível fazer projetos na rua.
A sobrevivência é uma luta a cada hora, em uma situação de extrema violência que costuma surgir de forma imprevista a partir de colegas, do rapa, da Guarda Municipal, da Polícia, da expulsão do albergue.
Essa situação de extremo desamparo e violência costuma ser suportada com o anestésico do álcool e da droga, o que agrava ainda mais a situação daquele que está nas ruas.
Portanto, qualquer política a esse respeito precisa respeitar o tempo e o imediatismo que dominam essas vidas.
A terceira conclusão tem a ver com as expectativas de uma “nova vida” e de uma outra “nova vida”.
De acordo com o estudo, as pessoas em situação de rua acabam no que foi deniminado instituição total – tal como uma prisão ou manicômio, a pessoa fica capturada, aprisionada.
“Como sairá das ruas se ali agora se encontra tudo aquilo que para ele importa? Ao sair da rua, o sujeito mais uma vez encontra-se no profundo desamparo que encontrou no momento mais grave em que se concentraram todas as suas rupturas. Ficou sem nada e por isso veio para a rua. Agora, quando sai da rua, mais uma vez fica sem nada. Tudo aquilo que havia construído com um enorme esforço se esvai. É o duplo exílio. Um quando foi para a rua, outro quando sai desta e tem que deixar novamente tudo o que ali construiu. Fica à deriva tal qual o barco dos imigrantes clandestinos, ou como diria Guimarães Rosa, na terceira margem do rio”, diz o estudo.