Por Júlia Carvalho Ferreira Barbosa Lima
Era uma madrugada fria de quinta-feira, dia 19 de agosto de 2004, Praça da Sé, região central de São Paulo. Dez pessoas em situação de rua foram espancadas com golpes na cabeça. Seis delas morreram, duas na hora, quatro no hospital. Em 22 de agosto, um novo ataque. Cinco pessoas em situação de rua, novamente, foram o alvo, uma faleceu na hora.
No total, quinze pessoas covardemente agredidas: sete mortas e cinco gravemente feridas. Meses depois, uma testemunha, também em situação de rua, foi assassinada. Essa chacina ficou conhecida como o Massacre da Sé. Após 15 anos, esse crime brutal segue sem respostas.
Antônio Odilon dos Santos – Antônio Carlos Medeiros
Benedito Souza – Cosme Machado – Maria – Pantera
Pessoa não identificada – Priscila Machado da Silva
Após o Massacre, a população em situação de rua organizou sua luta. Em 2004, o Movimento Nacional da População de Rua foi criado e, nos anos seguintes, outros movimentos também surgiram.
Fruto dessa mobilização, em 2009, foi aprovada a Política Nacional da População em Situação de Rua, regulamentada pelo Decreto n° 7.053/2009. Nesse mesmo ano, o dia 19 de agosto foi reconhecido como o Dia Nacional de Luta da População em Situação de Rua. Lentamente, os debates e as políticas públicas para as pessoas em situação de rua avançam, contudo não acompanham a velocidade com que as ruas tiram suas vidas.
O Massacre da população em situação de rua não foi pontual. É contínuo. Diariamente, as pessoas são invisibilizadas e têm seus direitos negados. Morrem de frio. Morrem de fome. Sem saúde. Sem educação. Sem emprego. Sem moradia. Sem oportunidades de saída digna das ruas.
“Quantas vidas ainda hão de sangrar?
Quantas vozes ainda tentarão calar?
Quantos prantos irão rolar?
Quantas sombras irão vagar?
Desistir, nunca!!!
Ainda sangramos, soamos
Nossas vozes se tornam mais ouvidas,
Sim, ainda derramamos prantos!
Desistir, nunca!
Você que não quer ver
Você que não quer ouvir
Nos tornamos visíveis!!!
Desistir, nunca!!!
Somos um povo que quer viver
Temos uma história
Cada um com suas bagagens, sonhos e alguma memória
Somos humanos, parte desta sociedade, não somos a escória!!!
É, sim, o reflexo da exclusão social
Onde aquele que é mais vulnerável
É chamado de miserável
Numa sociedade ainda não igualitária
Tão pouca solidária!
Mas estamos em luta,
Desistir, nunca!!!”
Neide Vita – 2016