FOTOS: GIULIANO MAGNELLI E MARCELO MOREIRA/GABINETE EDUARDO SUPLICY
FOTOS: GIULIANO MAGNELLI E MARCELO MOREIRA/GABINETE EDUARDO SUPLICY

Somos vítimas, e não o problema da Cracolândia. Esse foi um dos principais recados dados pelos moradores e frequentadores da região da Luz, na área central da cidade.

Ficou claro, diante dos relatos feitos na reunião extraordinária da Comissão de Direitos Humanos da Câmara Municipal, realizada nesta quinta-feira (25/05), que houve violência nas operações policiais na Cracolândia, com abordagens desrespeitosas e inaceitáveis. A comissão é presidida pelo vereador Eduardo Suplicy.

Os direitos humanos de comerciantes, moradores e usuários de drogas foram violados e exigimos explicações a respeito dessa política da Prefeitura de São Paulo.

Os encaminhamentos da reunião são os seguintes: encaminhar transcrição taquigráfica e gravações para o Ministério Público, Assembleia Legislativa e autoridades da prefeitura; formar uma comissão de vereadores para intermediar reunião entre o secretário de Assistência Social, Felipe Sabará, e os ocupantes do prédio da Secretaria de Direitos Humanos; se houver recusa de Sabará, marcar uma audiência pública para a próxima semana convocando Sabará e os secretários de Direitos Humanos, Saúde, Habitação e Segurança.

Histórias de vida

Tarcila Amorim, 31 anos, é cabeleireira e tem um salão na Rua Helvétia, endereço que faz parte do circuito de drogas da região. Mãe de dois filhos, ela conta que teve seu comércio lacrado na segunda-feira. A Prefeitura fechou pensões e comércios por suspeitas de irregularidades com o município.

“Eu não sou dependente química. Na verdade, os que estão no bairro hoje, foram empurrados para lá. Eu quero continuar morando na Cracolândia. Se o Estado diz que quer revitalizar a região, que faça isso para quem já vive lá.”

O coordenador do Proad (Programa de Orientação e Atendimento) da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), Dartiu Xavier, disse que o combate à Cracolândia se dá de forma contrária ao que a atual Prefeitura propõe. Segundo ele, países que tiveram bairros semelhantes ao paulistano, combateram o consumo através da redução de danos.

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“A miséria social dessas pessoas faz com que elas recorram a alguma substância para aliviar o sofrimento, que em geral é o álcool e, no nosso caso, o crack também. Todas as medidas intervencionistas e repressivas, seja do ponto de vista policial ou médico, com internações compulsórias, são de baixíssima eficácia.”

Ele afirma que os “modelos mais acolhedores” são os que tratam os dependentes químicos no local onde eles vivem, “tolerando a diminuição progressiva” do consumo de drogas. A reunião, extraordinária, foi convocada pela Comissão de Defesa de Direitos Humanos, Cidadania e Relações Internacionais.

Suplicy, presidente da Comissão, espera que o prefeito volte atrás na operação. “Aqui ouvimos depoimentos importantíssimos de todos aqueles que foram vítimas da operação. Se o João Doria tem alguma sensibilidade e ouvido para escutar a sociedade paulistana, precisa reconhecer que cometeu um erro gravíssimo junto com o governador Geraldo Alckmin”, disse.

 

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